segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Seu nome no oráculo


imagem: mandala
fonte: internet


procuro no oráculo
nas escrituras
(as sagradas e as profanas)
seu nome:
jasmim em flor
em movimento e em claridade

seguem um ao outro
o trovão e o relâmpago
unidos e distintos
na difícil pronúncia
deste nome que é dado

aço firme e maleável
tece linhas com o perigo
distorce a imobilidade

causa prazer quando faz justiça
revela o tempo
e lentifica a espera
quando é favorável



terça-feira, 4 de outubro de 2016

1o de setembro

desenho: Jordanna Duarte

Sorriu encantado
brindou o amor
comeu mal passado

mentiu no 1o. de setembro
flertou com a morte
salgou a carne

discutiu o tempo
parou o relógio
não contou os anos

se viu no espelho
sangrou a língua
desistiu de olhar

matou a inocência
das tardes todas
do olhar abissal

do amor primeiro
das mãos que abrem
e tencionam adeus

síntese-pesar-sonora
mudo piano fundo
lira retorcida.

Jordanna Duarte

Jogo de Búzios

foto: Jordanna Duarte

Na esteira da vida 
descobrindo que as contas se partem e perdem 
e o coração encontra o musgo 
inerte do fim.

Jordanna Duarte

segunda-feira, 14 de março de 2016

Pé de poesia

foto: Jordanna Duarte
Cerrado e Rio Paranaíba - Minas/Goiás

faço poesia como quem anda descalço
despreocupado
brincante

às vezes, no descuido do caminho,
um espinho
um galho
uma espiral

faço parada
respiro fundo
reconduzo livre

continuo flertando com o perigo
de andar descalço
mas plantas de meus sonhos
sorriem e respiram azul!


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Dom do linho


foto: internet

teci no tear do espaço-tempo um linho puro para te render
novelo de outras épocas
envolvi no seu sossego minhas ressacas
escutei sua poesia, recebi seus sonhos nos braços,
conheci do seu céu
te dei minhas estrelas, 
entranhas
versos soltos, carinho de cão
olhos atentos ao caminho do seu sono
ouvidos profundos para sussurros refinados
toque, boca e damasco na taça
adoçando carinhos retidos no tempo
mantidos na boca
estalando na língua

poesia
de sentir
e te tocar
poesia de ouvir dormir e querer amanhecer!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Poemacanção


Nebulosas de Orion (M42/M43)
Takahashi SKY90 f/4.5 (400mm)+Nikon D70 4,0" res 
Takahashi P2Z exp: 5' (1x300") iso 800 SQM 20.90
http://www.astrosurf.com/carreira/obs2005_10.html 

Você não sabe de nada
não sabe o que é o amor
Você não sabe de nada
não sabe que o amor

o amor é feito de lascas
o amor é feito, fantástico
dois terços de água
dois terços de vodca 
um quarto de prece
dois dedos de perversão

você não sabe de nada
não sabe o que é o amor
Você não sabe de nada
não sabe que o amor

você é feito de vento
eu sou feita de árvore
eu sou feita de leite
sou feita de fábrica

o amor é quase… nada
o amor é quase, mágica 
dois terços de água
dois terços de vodca
um quarto de prece
um quarto de solidão

você não sabe de nada
não sabe o que é o amor
você não sabe
de nada!
não,
não sabe do amor…

(jordannaduarte ®)

domingo, 23 de março de 2014

não há luz no fim do túnel

foto: internet

e quando menos se deseja, já no trilho que em muitos quilômetros viu-se criar paisagens e outros sonhos e tantos sóis, e bem ali, já depois de ter entrado no túnel, circulado montanhas, despenhadeiros, cinzas traiçoeiros das névoas, ali, dentro do túnel, imenso, neste vagão apertado dos limites e circusntâncias, dentro daquela escuridão descobri que não há luz no fim...


   que a vida passou a ser um túnel frio comprido longo e dolorido de ser percorrido
       que me acostumei com as trevas e ressônancias dos trilhos batendo nas paredes de pedra
                     que a vida segue por baixo dos caminhos asfaltados de outra jornada, 
         que o nome da bruxa se fantasia de imaculada, que é aparecida
                       que a vida é subterrânea
                                              que o amor é escuro
               que o amor vagueia sem perguntar se pode, se convém
                                          que o amor gosta de não saber e não se interessa por direito
que a solidão é um contrato de dois estranhos e o que maquinista não olha pra trás
                                 que o túnel é você
                                                                 que o amor somos nós
                                  que o maquinista não sou eu
                                                                          e nem sei onde estou
só me sinto quando há o escuro da noite, mesmo que seja ao meio-dia
que o sonho acaba quando o você sabia e não quis ver aparece batendo na cara
                                                    que eu disse e você não prestou atenção
                           que a condição de túnel sou eu
 que o trilho não é você
                                            e que o contrato começa quando a luz aparece
e que é só o som que vale, que ecoa, que bate nas paredes frias do não possível
                          e que nunca haverá luz para os olhos cansados do ver
       para o coração cansado do nunca ter
                                                          e não haverá luz quando o dia amanhecer
                 e que sempre haverá vida se o infinito túnel permitir.
                           são os apitos do maquinista a me fazer acordar.
e sentir que ainda assim é o vagão apertado do tempo dentro do túnel infinito que me faz querer continuar dentro dele.
                                 e que a luz sou só eu a querer iluminar.

terça-feira, 11 de março de 2014

Poemar

foto: internet

hoje quero poemar
namorar com as palavras
fitando-as de longe
observando seu ir e vir
esperar que me toquem
como pés na areia esperando o beijo do mar
quero de mansinho vagar
sentir o flerte
caminhar mais um pouco
me deixar envolver
quero lavar a alma
no sal grosso da letra
deixar o peso do silêncio
ser levado pelas rimas
mergulhar no profundo do verbo
fazer minha ação
ser graça e contentamento
preservar o dom
deixar as palavras em mar aberto
irem, para longe, desembocar.

jordanna duarte ®

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Pra amares sem fins


foto: Jordanna Duarte - Brasília/DF

sobre um conjunto de concretos e desconhecidos
virtualmente unidos no tempo presente
faziam tanta música, tantos soando ao mesmo tempo que era difícil identificar o tom
mas uma nota e o seu conjunto de harmônicos vibravam diferente
um toque segurando um pouco mais de delicadezas de tempo nas mãos recém encontradas
numa conversa sem muito dizer e o toque permanecendo, ressoando sem que ninguém percebesse, acorde só para o par de ouvidos atentos aquela sutileza
um contato mais tarde, um abraço que não se fez, uma despedida com gosto de chegada,
com vontade de "quero mais isso que nem houve"
e tantos outros toques discados, incompletos, não atendidos
aquele céu invadindo horizontes sem pedir e só reinar, 
a vontade de sol e lago presa numa asa qualquer da cidade decolando sonhos, 
aterrissando aqui para poucas horas em solo e muitas outras de chama,
e mais uma vez outro voo, outro pouso, outras poucas horas e tantas vontades e descompassos 
mas aquela nota e seus harmônicos vez ou outra aparece dizendo que soa bem, soa afinado nas cordas grossas dedilhadas que acompanham um canto qualquer de blues guardado em garrafa pequena de whisky: segredos descobertos à goles
aquela nota grave ressoando harmônicos num ouvido absurdo
transformado em dois, mais do mesmo...
 ...pra amares sem fins...
(o céu de agosto brindava uma esperança displicente)


(®jordanna duarte)






segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

poesia ao sol


arquivo pessoal

a leveza no andar
e a doçura do tom
desmanchando a sombra que ficou,
e uma nuvem qualquer que se distraiu
encarregou de deixar despontar o sol
aquecendo leve a pele branca 
iluminando o sorriso que foi cortado
a meiguice que não se pode mostrar
a voz que sempre se faz ouvir num momento de intenso pensar
: uma poesia ao sol a agasalhar com carinho esse som
esse descanso, esse vagar sentindo a brisa,
a areia e o mar na ilha banhada por incerteza,
sua confusão que se revela e rompe em toques 
 em compassos de contratempos, cheio de pausas
e os pequenos avisos sonoros a despertar
: as vezes, um alcance 
(como numa noite de ruídos e sons) 
outras, destoa
: acena um descaso e um descuido qualquer
(desfazendo a leitura da escrita concreta 
que se teceu harmonias e melodias)
mas ainda esse sol no planalto central
na lógica das asas abertas
um voo cego ainda que num céu de brigadeiro
um doce que teimo cometer,
amparar no cuidado das mãos,
tocar, moldar essa areia deslocada e silenciar para depois
: poder decolar!

(®jordanna duarte)

sábado, 16 de novembro de 2013

Da capo al fine

arquivo pessoal
veio cheio de técnicas
e dedos
e deslizes
fez com carinho pizzicatos
arrasou no slap
destruiu em hammer-on meu coração
e o soltou mais que depressa em pull-offs
em tão poucos compassos
conquistou meus harmônicos
terminou com um slide
desligou os captadores
e me desplugou.
(jordanna duarte®)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Metamorfose incompleta

foto: cida almeida
para ter seus sons
precisei entrar
me esconder fundo no pó da terra
me alimentar da raiz
e viver na metamorfose incompleta
no quente novembro sua cantoria
emaranhando circular os sentidos
agarrada ao seu tronco
alçando pequenos voos
cantando pra te chamar
pra te chamar
pra te chamar
pra ter seus sons
no pó da terra
entrei novamente
à procura do alimento
pra depois
te chamar pra cantar
no novembro quente
os sentidos emaranhandos
silenciando
pra te contar
e mostrar
uma cigarra eternizada
só a casca
ainda a amar a sua planta
foto: jordanna duarte

Uma ponte e não era sonho



foto: Jordanna Duarte - Porto Nacional/TO

meio braço de rio, formando lago, espelhos d'água na margem, 
à margem, 
nunca quase cristalina, 
até quase nunca rasa, 
impossível caminhar.

Deixando a margem, avançando água adentro,
galhos tombados, árvores gritando sufocadas, 
pássaros sem pouso, sem folha verde, nem secas, todas alagadas. 
Um boi pasta no ar. 
Vê de longe o ruminar das águas. 
Um galho que já foi seco, 
passa torto, 
boiando, 
sem pressa 
nem destino.

Ainda é calmo o rio alargando horizontes 
para onde já não se vê e só se enxerga 
cinza. 
Sem barulho, 
sem tumulto, 
segue robustez debaixo da tarde, 
desfazendo os marrons e 
verdes e 
quase vermelhos 
ao redor

quase morri ai,
em cima da ponte,
pra baixo o rio,
um susto e não era sonho.

Não precisei acordar 
pra saber-me viva.
(jordanna duarte®)

domingo, 27 de outubro de 2013

Estação vermelho-flamboyant

foto: Cida Almeida

Quando os flamboyants florescerem
vou sempre lembrar:

da estrada
 do caminho
dos sons

Quando os flamboyants florescerem
vou sempre lembrar:

que havia uma estrada
que havia um caminho
que havia sons

Quando os flamboyants florescerem
vou sempre lembrar:

de passear naquela estrada
de passear pelo caminho
de passear nos seus sons

Quando os flamboyants florescerem
vou sempre lembrar:

que esperei sua florada
que admirei seu sorriso
que embarquei na composição

e que esperarei a próxima estação…

(Jordanna Duarte®)

sábado, 19 de outubro de 2013

Dois e um

foto: Cida Almeida


Definitivamente, não tínhamos afinidades.

Padecíamos de uma infinidade.
Entre o toque e o sentir: um existir.
Para além e mais.

(Jordanna Duarte®)


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um vagão perdido no tempo

foto: internet

Num agosto qualquer no trilho do engano
Desceu a serra rumo quase ao mar
Sentiu frio nas mãos naquela manhã de morrer
Parou em frente ao rio e capturou aquele olhar

Num desgosto qualquer de ruído metálico
Sobrou dentro do túnel aquela escuridão
E no vagão do desejo, deixou escorrer lembrança

Num gosto qualquer deixou de prestar atenção
Ruiu pelos desfiladeiros a paisagem de filme
As árvores entre as nuvens cinzas
O amor descarrilando

O amor se entregando...
O amor se agonizando...
O amor se indagando...

terça-feira, 9 de julho de 2013

A jornada nossa de cada dia nos dai hoje. Amém.



foto: internet

Sou descendente de sertão. Minha ascendência é o interior.

Impregnado da poeira de Minas, do ser-tão distante de meu avô, que veio cortando o deserto das terras férteis entre montanhas, a procura de um Pai mais Eterno e mais Divino ouvindo dias a fio a canção redonda e untada das rodas do carro de bois.

Tropeiros do deserto, tão retorcidos, curtos, enrugados pela dureza árida da vida, do sertão, do interior deste cerrado que habitamos. Nas paradas longas desta viagem de bois, gente, crianças, tios e mãe, a trégua da ladainha para agradecer uma água de fonte pequena, jorrando fresca, para aliviar a sede da busca, da caminhada de passos curtos numa estrada tão longa de desejos, de sonhos e de alentos.

Uma vida para contar a poesia brusca do pão nosso de cada dia, uma reza em que hoje ainda soa nas ave-marias silenciosas das noites, uma vontade de hóstia escorrendo na boca a secura do milagre, esperado e espalmado na longa travessia desde a cabeça da serpente chamado Paranaíba. E ainda falta muito chão.

Passando pelos bois, os trotes de outros cavalos, tão solitários quanto a família que caminha unida para o desconhecido, banhados pela luz intensa do sol à pino e consagrados no manto da senhora matriarca de todos nós. Uma mãe tão cheia de graça pedalando o tear, colhendo o algodão para tecer a vida dos pequenos, para cardar os braços dos homens.

Santificado seja o nome deles, que fizeram nosso reino tão duro e tão profundo de poesias e sons. O manto sagrado que lhe cobriam a cabeça de azul profundo estrelado hoje cerca-nos acima, feito aureola consagrada no coração da virgem.

Da prece santificada fez-nos enricados de poesia da vida, de sons redondos, zunindo no estradão, tão longos e tão duros quanto o chão riscado pelos bois, cangados obedecendo o passo ao ermo dos desejos.
Ainda resta-nos nossa travessia. Desbravar o ser-tão grandioso de nossa jornada, encontrar e encantar a serpente que nos avista, às vezes, espreita. E a procura do divino mais amado e sagrado habita-nos. Às vezes, sem hóstia, sem terço mas com a prece divina encantada de nossa herança, confiada no vir-a-ser sendo, na coragem nossa de cada dia. (Jordanna Duarte ®)

Geografia

foto: internet

não estou no lugar nem perto de onde o sol nasce primeiro
amanheço, passo o dia, a noite chega sem atualizações
me espero na esperança que o sol desembarque
na semana que vem.
(Jordanna Duarte ®)
to ag

Ressonâncias

foto: internet


Quando o que se faz ao longe e parece-lhe pequeno
vem ondulando por aqui, feito chuva no mar,
banha minha praia em amplitude de tsunami.

(Jordanna Duarte ®)

domingo, 26 de maio de 2013

Dança cigana

arquivo pessoal
 

da magia no campo,

em fumaça e clarão banham 
os jovens ao redor do círculo
samsara: a fogueira

sapatilha em miúdas brasas, seu amor

zapaderin inunda  de ritmo os corações
ele dá o tom, a simetria e a síntese: é a música

ela viravolta seu amor segurando nas mãos a taça, 
lua alta clareando mistérios
ela dança e ele se encontra nos véus...

os olhos em kajal assinam a pintura abissal, 
ao fundo, para dentro, mirando o futuro

marca o tempo, rastra a terra, abre as asas
a coruja em seu voo

a corrente do tempo, esquentado o ventre 
fogueira, girando, filhos do vento 

no chão as fagulhas do tempo
a cura e o exorcismo
o elo dos jovens ecoando: madrinha de todos os tempos
(Jordanna Duarte ®)


to a.g