quarta-feira, 7 de abril de 2010

Escritos Alheios (II)


O mar que me inunda


E o tempo mudou. A previsão era de calmaria, de céu aberto, de flores da estação. De mar sem ressaca. Erraram. Tudo aconteceu como não se tinha previsto, da maneira como não contaram. Aconteceu da maneira que se vinha. No anúncio do frio, da chuva, da falta de energia.
Agora o tempo é de vela acesa. Fina luz a iluminar, a oscilar num dia escuro e numa noite clara, de insônias e descompassos.
No amanhecer o mar tomou de sobressalto os mais comedidos os mais sonolentos os mais desavisados os mais crédulos. Arrebentou. Em ressaca.
Tudo estava cinza... a onda cinza... o mar gelado de cinzas... Nem Iemanjá se vestia de azul. Ninguém se despia se via se dava na orla deserta. E o mar arrebentava sozinho em cinzas esperas.
As flores, as promessas das flores, murcharam em outono cinzento. Em mar de ressaca. Esperava-se que o céu abrisse, como fora previsto. Dias e noites de esperas sem sucesso. E na orla o mar arrebentava.
Num outro tempo, de tarde gris, o prenúncio da volta. Ao longe se anunciavam as claridades. Um balé solitário. Era o começo.
Mas o mar, o mar ainda arrebentava...


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