Vibra em mim uma música que ecoa desde muito cedo
Que ressoa desde antes, muito antes do caminho aberto
Vibra em mim uma música que preenchia aquelas manhãs
De sol calmo, de jardim amplo, de pés de mangueira
Vibra em mim uma música que aprendeu desde cedo
Como andar pelo caminho pautado
A subir e descer entre espaços e linhas
Vibra.
Como não haveria de vibrar?
Se está em mim
Se não consigo caminhar senão por sons e silêncios.
Vibra em mim uma música
De acordes despontando, abrindo trincheiras de para sempre
Para sempre em mim
Acordando
Ressoa, ecoa, reverbera nos meus cantos
Nos meus silêncios partidos de pausas
Mínimas
Às vezes, agitato, tempo giusto
Mas sempre em mim
Vibrando
Naquele quintal, onde o vento se fazia música
Onde era possível, mesmo antes de conhecer o caminho,
Girar num tempo que já existia desde antes
Naquelas manhãs, descobrindo a feitura da escrita entre as mangueiras
Nas tardes que sonorizavam a solidão
De se descobrir entre intervalos, o preto e o branco do marfim
No prédio de tijolinhos à vista que guardava os segredos
Os medos do vir-a-ser
Naquela cauda imensa que se apresentava para a criança
Nos fins de frases, na necessidade das respirações que incitavam o encontro
O terno reencontro
Entre o que vibrava fora e dentro
Um caminho ondulado, simultâneo, independente de mãos
Que uniam o dentro e o fora de mim
Para sempre em mim
Ressoando
Ecoando o encontro de mim
Como não haveria de vibrar?
Se vibra dentro
Se toca a alma
Se já está desde antes, muito antes do caminho aberto
Hoje, um caminho que me trilha
Que me presenteia
Que vive em mim
Para mim
Dentro de mim
Mui lindo. Vibrou em mim. Como não haveria de vibrar? Está virando uma tremenda poeta.
ResponderExcluirMuito envolvente o seu poema, de grande fôlego formal e uma semântica forte sustentando os versos.Que maravilha de construção:
ResponderExcluir"Naquele quintal, onde o vento se fazia música
Onde era possível, mesmo antes de conhecer o caminho,
Girar num tempo que já existia desde antes..."